O 1° Fórum de Mobilidade Urbana de Teresópolis, realizado no último dia 26,no auditório do Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso), trouxe os resultados da última pesquisa de satisfação dos usuários com o sistema de transporte coletivo e revelou muitos desafios que o município precisará enfrentar para melhorar os deslocamentos das pessoas pela cidade.
Entre os principais pontos apresentados pelo WRI Brasil, instituto responsável pelo levantamento, está a insatisfação dos passageiros de ônibus com o trânsito da cidade. Para 74% dos usuários entrevistados, os coletivos enfrentam muitos congestionamentos e o tempo médio gasto com deslocamentos no transporte público chega a 1hora e 17 minutos por dia. Outro dado importante é que48,5% dos usuários já trocaram a viagem de ônibus por carros de aplicativo devido ao tempo de viagem.
Além das reclamações sobre o impacto do trânsito, as piores notas de satisfação da pesquisa foram destinadas a falta de conforto nos pontos e terminais de ônibus e a alta exposição ao ruído e a poluição. Em contrapartida, o atendimento dos motoristas de ônibus e a sensação de segurança em relação a acidentes de trânsito e segurança pública ao utilizar o transporte coletivo, foram os itens mais elogiados pelos passageiros.
Para o analista da WRI, Henrique Cabral, que apresentou os resultados da pesquisa em um dos painéis do fórum, as pesquisas são fundamentais para entender essas percepções dos clientes e buscar soluções. “Muitas pessoas só possuem o ônibus para se deslocar e é importante que eles tenham essa qualidade”, afirmou.
Fórum debate tarifa, subsídio e papel das operadoras e do Poder Público
Apesar de não estar entre os três principais pontos negativos apontados pelos passageiros, o gasto com transporte e a disponibilidade de horários são itens de insatisfação de quem utiliza o ônibus na cidade e receberam pontuação abaixo de 5. A situação em Teresópolis é semelhante a realidade nacional e vem sendo enfrentada pelos municípios com a adoção de subsídios para reduzir o preço da passagem e cobrir por completo os custos da operação dos ônibus. No painel “O panorama atual do Transporte Público no Brasil” a diretora de Mobilidade Urbana da Semove, Richele Cabral, afirmou que mais de 360 municípios já subsidiam com algum percentual seus sistemas de ônibus. “É importante políticas públicas que gerem uma tarifa menor para o usuário”.
O cenário da capital fluminense foi tema do terceiro painel, apresentado por Paula Leopoldino, gerente de Gestão da Mobilidade do Rio Ônibus, sobre o tema “O transporte público por ônibus no município do Rio de Janeiro: da pandemia ao subsídio”. Paula apresentou dados operacionais, como o número de linhas (450) e de empresas (29) e falou sobre o acordo assinado em 2022 entre os consórcios, a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e o Ministério Público, a partir do qual foi implantada o subsídio e a tarifa de remuneração na capital. A medida permitiu manter a tarifa pública em R$ 4,30 e a tarifa de remuneração, que cobre efetivamente todos os custos da operação em R$ 6,45. A engenheira falou também sobre a transparência e o controle no envio de dados operacionais à Prefeitura.
No último painel, o subsecretário de Mobilidade do Espírito Santo, Leo Carlos Cruz, apresentou o caso do transporte público em seu Estado, em que o poder público apoiou as operadoras durante a pandemia, assumindo o ônus da aquisição do óleo diesel e conseguindo manter a oferta de ônibus para a população dentro dos padrões de normalidade. Cruz abordou a importância do poder público assumir a responsabilidade pela infraestrutura e, quanto ao subsídio, afirmou: “Não estamos subsidiando as empresas, mas as pessoas, os clientes”. O subsecretário alertou para o fato de que os políticos não podem ter medo de tomar medidas antipáticas a certos grupos quando se trata de mobilidade urbana, porque têm que colocar o interesse coletivo em primeiro lugar, e a maioria depende do transporte público em seu dia a dia.
Durante a mesa-redonda que finalizou o evento, o mediador Glaydston Mattos Ribeiro, professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Coppe/UFRJ e diretor-executivo da Fundação Coppetec, debateu com os palestrantes, listas e sugestões de melhoraria na mobilidade de Teresópolis. Entre os assuntos discutidos estavam a priorização do transporte público nas vias, o planejamento para deslocamentos mais adequados, a construção de abrigos e terminais que ofereçam conforto ao passageiro, uma melhor interlocução com o passageiro, tanto por parte do poder público, quanto das empresas, a articulação entre os vários agentes do transporte, a criação de um plano de mobilidade urbana, inclusive para ter condições de obter recursos do governo federal, e a adoção de um sistema de financiamento que permita a redução da tarifa, seja via subsídio, desoneração, custeio de gratuidades, entre outras possibilidades.